Em São Luís, várias pessoas estão procurando atendimento médico com queixas na visão, poucos dias após o eclipse solar do dia 14 de outubro. O motivo foi olhar diretamente para o sol sem a proteção recomendada.

A médica oftalmologista Milena Pinheiro é uma das profissionais de saúde que atende na capital maranhense e recebeu pacientes com queixas na visão, dias após o fenômeno.

Recebi alguns relatos de desconforto (ardor) por descuido em olhar diretamente para o sol para saber se já estava acontecendo, e relatando que sem o filtro não conseguiram identificar o eclipse”, contou.

Só o oftalmologista Mauro César Oliveira recebeu três pacientes com reclamações semelhantes, todas relacionadas ao eclipse.

“Atendi três pacientes com queixas visuais nos dois dias após o eclipse, porém nenhum deles apresentava sequela grave. Apenas sintomas leves e reversíveis”, afirmou Mauro, que também é professor de Oftalmologia do curso de Medicina da UFMA.

Segundo os especialistas, os principais sintomas relatados pelos pacientes com danos ‘pós-eclipse’ eram ardência nos olhos e fotofobia (sensibilidade à luz), mas há relatos de casos mais delicados, como o que foi presenciado pela presidente da Associação Maranhense de Oftalmologia, Raissa Moreira Lima.

“Recebi duas pessoas com queixas e que olharam [o eclipse] sem proteção. No caso das duas, houve uma ceratite, que é uma queimadura da córnea. Aparentemente, não houve dano à mácula, o que seria mais grave, mas vou investigar com um mês, no retorno”, afirmou.

Vi o eclipse sem proteção, e agora?

Apesar dos relatos na rede privada de saúde, a Secretaria Municipal de Saúde de São Luís, por exemplo, declarou que não houve registros de atendimentos de pessoas com problemas de visão decorrentes do eclipse solar, em suas unidades.

Ainda assim, os oftalmologistas acham provável que apareçam novos pacientes com relatos de problemas na visão, caso não tenham usado a proteção adequada no eclipse. Isso pode acontecer a curto ou longo prazo.

A recomendação primordial seria a proteção aos olhos no dia do eclipse, quando a orientação era usar lentes especiais de nível 14. Quem não seguiu as recomendações, portanto, precisa ficar atento aos possíveis sintomas, que podem ir de uma leve ardência até a perda de visão central. Um exame oftalmológico costuma ser recomendado pelos médicos.

“No caso do desconforto, podemos indicar apenas a lubrificação e gel oftalmológico. Mas caso estejam com dor mais importante, aí já poderíamos ter queimadura da superfície ocular mesmo, semelhante à solda elétrica sem proteção (isso já é mais comum), e já precisaríamos de medicações mais fortes (colírios com anti-inflamatório mais fortes, como corticoides)”, explica a médica Milena Pinheiro.

No entanto, o maior temor dos oftalmologistas é quando há uma lesão mais séria na região da mácula do olho, que pode trazer danos irreversíveis.

“A região da mácula é específica da retina. Para se ter uma ideia, quando a pessoa direciona o olhar, para ler, você está lendo aquilo, e o entorno você está olhando com o resto da retina. Mas onde você é capaz de ler, é com a região da mácula. A mácula é responsável pela leitura e as pessoas que olharam diretamente para o eclipse ou olham diretamente para o sol podem ter uma lesão macular, e assim, de forma irreversível. É uma mancha central na região da mácula e a gente tem medo que isso se desenvolva tardiamente”, explicou a Dra. Raissa Moreira.

Dessa forma, a orientação geral é procurar um oftalmologista, caso surja algum desconforto na visão, pois, com o diagnóstico e tratamento correto, são menores as chances de desenvolver uma doença ocular.

Eclipse em São Luís

Em São Luís, várias pessoas puderam ver o eclipse com óculos especiais em um ponto de observação montado na Praça Maria Aragão, no Centro.

O eclipse solar ocorre quando a Lua se alinha entre a Terra e o Sol. Da última vez ocorreu o ‘eclipse solar anular,’ que acontece quando a Lua não cobre totalmente a superfície do sol e com isso, aparece uma sombra, que produz o “anel de fogo”, que dá forma ao fenômeno.

Durante o fenômeno, não é recomendado olhar diretamente para o sol. Um eclipse solar só pode ser observado com óculos específicos para a visualização do fenômeno, filtro especial com nível de proteção Nº 14 ou olhando para o reflexo do Sol. Nada de usar placas de raio X, filmes fotográficos, celulares ou outros artefatos.

De acordo com Antônio José Silva Oliveira, coordenador do planetário da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a próxima vez que o Maranhão deverá ser contemplado com um eclipse dessa magnitude será em 2048.

Com informações do G1