ÉTICA E POLÍTICA
“Nada pode compensar a profunda miséria, a infâmia e a vergonha em que mergulhamos: uma época desastrosa em que se pisoteia a religião, as leis e a disciplina; onde tudo se contamina de fealdade de toda espécie. Vícios estes ainda piores aparecem naqueles que presidem os tribunais, comandamos homens e se impõem à adoração pública” (MAQUIAVÉL)

 

Arlindo Salazar

 

            Diante de tamanha insensatez no palco político de nossos brasilis e, em especial, no de nossa esbulhada cidade de Codó, junto minha voz às vozes de indignação que pairam sobre os ares da cidade de Deus. As vozes indignadas da educação, da agricultara, as vozes da saúde, as vozes do homem sem teto e sem comida que se esgueiram pelas calçadas da cidade, as vozes dos milhares de desempregados, todas tem um clamor, gritam por ética na política, mas não qualquer ética, clamam, especialmente, pela ética do cuidar.
            O que temos percebido é uma total falta de ética na condução dos mandatos outorgados pela população aos “nobres vereadores”. Para exemplificar citamos apenas um fato: a antecipação das eleições para presidente da Câmara sem nenhuma justificativa plausível. O objetivo era apenas reeleger antecipadamente o Presidente da câmara para o biênio 2019/2020 com a finalidade de proteger o ex-prefeito de uma eventual retaliação do atual. A retomada da parceria não trouxe a confiança necessária, precisava, então, criar uma proteção ao antecessor contra eventuais “atos de vingança” do novo mandatário. A mudança no regimento trouxe a legalidade ao ato. Mas, refletimos: foi ético? Foi motivada por uma razão justificada? Tinha como propósito o bem comum? Penso que não foi uma atitude ética e, mais, foi imoral. Mudar um procedimento legislativo com o simples propósito de beneficiar interesses pessoais ou de um grupo político específico, parece-me que não é ético.
            A tensão que envolve esta relação (ética e política) não é nova, Platão e Aristóteles já conduziam este tema. Noberto Bobbio diz que trata-se de um “velho tema e sempre novo, porque não existe questão moral, em qualquer campo que seja proposto, que tenha encontrado uma solução definitiva”, portanto discutir a ética é sempre atual, especialmente, em tempos de homens tão desnutridos de bom caráter, agindo contrariamente ao registrado por Aristóteles quando sugere “que a política põe o seu principal cuidado em fazer com que os cidadãos sejam seres de uma certa qualidade, isto é, pessoas honestas e capazes de nobres ações” ou “o verdadeiro político é também aquele que se entregou especialmente ao estudo da virtude”. E aqui, acrescento: ao estudo e à prática das boas virtudes.
            De forma simples podemos dizer que a ética é um conjunto de valores que norteiam o comportamento humano. Particularizando, pode-se dizer que a ética é o conjunto de valores que certo político tem e que fundamentam as suas ações. Para o professor Mario Sérgio Cortella a “ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para decidirmos as três grandes questões da vida, que são: “quero”, “devo”, “posso”. Tem coisa que eu quero, mas não devo; tem coisa que eu devo, mas não posso e tem coisa que eu posso, mas não quero. Tenho paz de espírito quando o que eu quero é o que eu posso e é o que eu devo. Ética é, portanto, o conjunto de valores que eu uso para definir isto na minha vida”.
            Ethos, de onde deriva ética, significava para os gregos, a casa e os que nela habitam devem ordenar seus comportamentos para que todos possam viver bem. Na perspectiva da ética do cuidar a casa hoje é a rua que moramos, a cidade, o planeta. Hoje a casa, é a Casa do Povo, onde seus habitantes (parlamentares) devem cultivar e praticar atitudes que visem melhorar a condição da vida, portanto o que o povo, deseja e espera é que aqueles que foram eleitos apliquem todos os seus esforços com ética na busca da melhoria da qualidade de vida de todos, a final é condenável a utilização da política para satisfação de interesses privados. Concluímos com um certo ensinamento de Maquiável que ao defender a ética republicana, orienta que aqueles que buscam o poder devem ser guiados pelo espírito que se empenhe com interesse voltado “não a si, mas ao bem comum, não a sua própria sucessão, mas a pátria comum”. (e che abbia questo animo, di volere giovare non a sé ma al bene comune, non alla sua própria successione ma alla comune pátria).

 

*Arlindo Salazar é Professor, Contador, Analista-Tributário da RFB e aluno de Pedagogia/ UEMA